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A Importância da Hierarquia Familiar e o Abuso Parental

 


A Importância da Hierarquia Familiar e o Abuso Parental: Uma Perspectiva Sistêmica

A hierarquia familiar, dentro da Terapia Sistêmica Familiar, especialmente nas abordagens de Salvador Minuchin e Murray Bowen, é considerada um elemento fundamental para o funcionamento saudável do sistema familiar. Ela se refere à organização de poder e responsabilidades entre os membros da família, com os pais ou cuidadores primários ocupando uma posição de liderança e autoridade para garantir a proteção, o cuidado e a socialização dos filhos.

A Importância da Hierarquia Familiar Saudável:

  • Minuchin (Terapia Familiar Estrutural): Enfatiza que uma hierarquia clara e funcional permite que os pais exerçam seu papel de provedores, protetores e guias. Isso envolve estabelecer limites claros, definir regras consistentes e tomar decisões que visam o bem-estar dos filhos. Uma hierarquia bem estabelecida promove a estabilidade e a previsibilidade dentro da família, essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças.
  • Bowen (Teoria dos Sistemas Familiares): Embora não se concentre exclusivamente na hierarquia, Bowen reconhece a importância da diferenciação do self entre os membros da família. Em uma família funcional, os pais conseguem manter sua individualidade e tomar decisões racionais, sem serem excessivamente influenciados pelas emoções dos filhos. Uma hierarquia implícita se estabelece quando os pais assumem a responsabilidade pela gestão emocional e prática da família.

Características do Abuso Parental sob a Perspectiva Sistêmica:

Quando a hierarquia familiar é disfuncional e os pais se tornam abusivos, algumas características se destacam nas lentes de Minuchin e Bowen:

Perspectiva de Minuchin:

  • Inversão da Hierarquia: Os filhos podem ser colocados em posições de poder ou responsabilidade que não lhes cabem, como cuidar emocionalmente dos pais, mediar conflitos conjugais ou assumir responsabilidades financeiras precocemente.
  • Fronteiras Difusas ou Enredadas: As fronteiras entre pais e filhos tornam-se indistintas. Os pais podem compartilhar excessivamente seus problemas e emoções com os filhos, utilizando-os como confidentes ou buscando neles a satisfação de suas próprias necessidades emocionais.
  • Fronteiras Rígidas ou Desligadas: Em contraste, pode haver uma falta de conexão emocional e comunicação entre pais e filhos. Os pais podem ser negligentes, ausentes emocionalmente ou inacessíveis às necessidades dos filhos.
  • Triangulação: Um filho é frequentemente envolvido nos conflitos entre os pais, seja como aliado de um dos pais contra o outro, como bode expiatório para desviar a atenção do conflito conjugal, ou como mediador impossível.

Perspectiva de Bowen:

  • Baixa Diferenciação do Self nos Pais: Pais abusivos frequentemente demonstram baixa capacidade de diferenciar seus próprios sentimentos e pensamentos dos dos outros membros da família. Eles podem reagir de forma impulsiva e emocionalmente intensa, sendo facilmente influenciados pela ansiedade e pelas emoções dos filhos.
  • Transmissão Multigeracional de Padrões: Bowen enfatiza que padrões de relacionamento disfuncionais, incluindo o abuso, podem ser transmitidos de geração para geração. Pais abusivos podem ter vivenciado abuso ou negligência em suas próprias famílias de origem, perpetuando esses padrões.
  • Triângulos Rígidos e Intensos: O filho abusado muitas vezes se encontra preso em triângulos emocionais intensos e rígidos com os pais. A ansiedade entre os pais é desviada para o filho, que pode desenvolver sintomas emocionais ou comportamentais como resultado dessa dinâmica.
  • Projeção: Pais com baixa diferenciação podem projetar suas próprias características indesejadas ou sentimentos de inadequação em seus filhos, levando a críticas constantes, humilhação e abuso emocional.

Cuidados e Tratamento:

A intervenção em casos de abuso parental, sob a ótica sistêmica, requer uma abordagem multifacetada que visa a segurança da vítima, a responsabilização do agressor e a reestruturação do sistema familiar, quando apropriado e seguro.

Cuidados Imediatos:

  • Segurança da Vítima: A prioridade máxima é garantir a segurança da criança ou do adolescente. Isso pode envolver o afastamento do ambiente abusivo, o acionamento de serviços de proteção à criança e ao adolescente (como o Conselho Tutelar no Brasil) e o oferecimento de apoio psicológico imediato.

Tratamento:

  • Terapia Individual para a Vítima: É fundamental oferecer psicoterapia individual para a criança ou adolescente que sofreu abuso. O objetivo é ajudá-lo a processar o trauma, desenvolver mecanismos de enfrentamento saudáveis, fortalecer sua autoestima e aprender a identificar e estabelecer limites.
  • Terapia Individual para o Pai/Mãe Abusivo: O tratamento individual para o genitor abusivo é essencial para abordar as causas subjacentes do comportamento abusivo. Isso pode envolver o trabalho em questões como regulação emocional, histórico de trauma, padrões de relacionamento disfuncionais e desenvolvimento de empatia. Em alguns casos, pode ser necessário tratamento para transtornos mentais ou dependência química.
  • Terapia Familiar (quando apropriado e seguro): A terapia familiar pode ser considerada quando a segurança de todos os membros da família pode ser garantida e há um comprometimento genuíno por parte do genitor abusivo em mudar seu comportamento. O objetivo é identificar e modificar os padrões de interação disfuncionais, reestabelecer uma hierarquia saudável, promover a comunicação aberta e respeitosa e fortalecer os laços familiares de forma segura.
  • Grupos de Apoio: Participar de grupos de apoio pode ser benéfico tanto para a vítima quanto para o genitor abusivo. Os grupos oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências, receber apoio emocional e aprender com outras pessoas que passaram por situações semelhantes.

Importante: Em casos de abuso grave, especialmente abuso físico e sexual, a prioridade é a proteção da vítima. A terapia familiar só deve ser considerada em situações onde o abuso cessou completamente e o genitor abusivo demonstrou um compromisso real com a mudança e responsabilização por seus atos.

Sugestões de Fontes Acadêmicas:

  • Livros:
    • Minuchin, S. (1974). Families and family therapy. Harvard University Press.
    • Bowen, M. (1978). Family therapy in clinical practice. Jason Aronson.1
    • Nichols, M. P., & Schwartz, R. C. (2016). Family therapy: Concepts and methods (11th ed.). Pearson.
    • Goldenberg, H., & Goldenberg, I. (2017). Family therapy: An overview (9th ed.). Cengage Learning.
  • Artigos de Periódicos: Pesquisar em bases de dados acadêmicas como PsycINFO, Scopus e Web of Science utilizando termos como "family systems therapy", "structural family therapy", "Bowenian family therapy", "child abuse", "parental abuse", "family hierarchy dysfunction".

É crucial ressaltar que o abuso parental é uma questão complexa e multifacetada, e a abordagem terapêutica deve ser individualizada e sensível às necessidades de cada família. A busca por ajuda profissional qualificada é fundamental para garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos.

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