Texto de Pierre Weil:
Há na maioria dos nossos contemporâneos uma crença bastante enraizada. Segundo esta, tudo o que a maioria das pessoas pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado como normal e por conseguinte servir de guia para o comportamento de todo mundo e mesmo de roteiro para a educação.
Certos fatos e descobertas recentes sobre origens do sofrimento e de doenças e sobretudo sobre as guerras, a violência e a destruição ecológica estão a contestar e questionar seriamente a normalidade de certas "normas" ditadas pela sociedade através dos consensos existentes.
Está se descobrindo que muitas normas sociais atuais ou passadas, levam ou levaram ao sofrimento moral ou físico ou mesmo de indivíduos, de grupos, de coletividades inteiras ou mesmo de espécies vivas.
Vamos apenas dar um exemplo entre centenas ou milhares: o do consumo de cigarros.
Ainda há alguns tempos atrás era considerado normal as pessoas fumarem. Muito mais, era
considerado ofensivo e mal educado pedir a alguém para deixar de fumar na sua presença.
A medida que se reforçava a certeza de que o ato de fumar era lesivo à saúde podendo criar
efizema e câncer pulmonar com conseqüências eventualmente letais, o fato de fumar em si
começou a ser questionado sem contar o ato de fumar em público. O resultado foi que esta
norma caiu por terra, sendo reforçado em certos países pela sanção legislativa.
Resolvemos adotar o termo de "Normose", para designar esta forma de comportamento
visto como normal mas que na realidade é anormal. O termo foi forjado na França por Jea
Yves Leloup com o qual estamos trabalhando visando estudar o assunto mais a fundo e
publicar os resultados das nossas reflexões e investigações. A presente série de artigos
constitui um primeiro resumo de artigos já publicados e do estado atual das nossas
reflexões. Vamos em primeiro lugar definir de maneira precisa e clara o termo de Normose.
Assim, além da Psicose e da Neurose o vocabulário psicopatológico foi enriquecido com a
palavra normose.
1. O QUE É UMA "NORMOSE"?
Consideramos como Normose o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos,
hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria de uma
determinada população e que levam à sofrimentos, doenças ou mortes, em outras palavras,
que são patogênicas ou letais, e são executados sem que os seus atores tenham consciência
desta natureza patológica, isto é, são de natureza inconsciente.
Assim sendo para considerar um comportamento como normático, este tem que ser:
· Inconsciente quanto à sua natureza patogênica.
· Haver um consenso em torno da sua normalidade.
· Ser patogênico ou letal.
Chegou agora o momento de descrevermos as diferentes e inúmeras espécies de normoses
que encontramos nas nossas investigações. E o que será objeto da próxima parte de
explanação.
2. CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS NORMOSES
O número de normoses é muito grande. Cada dia que passa descobrimos uma ou várias
delas em áreas as mais inesperadas. Uma vez que assimilamos o conceito e só seu alcance
se torna impossível de não ver. Muito mais; tudo se passa como se antes desta descoberta a
gente tivesse sido cego. O próprio conceito se comporta como um poderoso revelador
facilitando a tomada de consciência de aspectos essenciais à preservação da nossa saúde e à
nossa existência.
Podemos distinguir duas grandes categorias de normoses: as normoses gerais e as normoses
específicas.
· As normoses gerais são as que possuem um consenso comum a praticamente toda a
humanidade. E o caso por exemplo da aceitação do cigarro ou da fantasia da
separatividade da qual iremos tratar daqui a pouco.
· As normoses específicas tem o seu consenso restrito a determinada nação,
população, grupo social ou cultural. Podemos dar como exemplo a prática do duelo
entre os homens de classe nobre da Europa até o início deste século ou ainda o uso
de assentos que deformam aos poucos a coluna vertebral dos passageiros da classe
de motoristas.
Inúmeras outras categoria podem ser criadas em função de diversos parâmetros. Assim
sendo, dentro da categoria das normoses específicas podem ser criadas inúmeras outras
categorias ou subgrupos, segundo por exemplo o tipo de patologia ou de morte a que leva a
normose ou ainda ao consumo de determinados produtos ou alimentos. Podemos assim
falar de normoses cancerígenas, quer dizer, as que levam à patologia cancerosa. Usamos
também a categoria de "normose de consumo" que inclui os inúmeros objetos e serviços
prestados e que se revelam patogênicos ou letais. O objetivo do presente trabalho, sendo
apenas para sensibilizar o leitor à existência da normose vamos nos limitar em dar alguns
exemplos de cada uma das duas grandes categorias que acabamos de definir.
3. NORMOSES GERAIS
Vamos começar dando um exemplo de normose geral. A considerarmos como sendo a mais
perversa de todas as normoses. Antes de conhecer o conceito de normose escrevemos um
livro inteiro sobre ela sob o título: A neurose do Paraíso Perdido. Esta Neurose começa com
uma verdadeira Normose, a qual intitulamos de "Fantasia da Separatividade" . Trata-se de
uma ilusão, de uma miragem, que consiste em nos perceber como separados do mundo
exterior, como se não tivéssemos nenhuma relação com este. As conseqüências desta ilusão
são o desenvolvimento de emoções destrutivas tais como o apego a tudo que nos dá prazer
neste mundo exterior e a rejeição e raiva contra tudo que nos ameaça de dor e sofrimento.
São estas as maiores causas de tensão e stress o qual leva à doenças, a sofrimentos os quais
reforçam ainda mais a fantasia da separatividade. As pessoas entram assim num círculo
vicioso em que repetem compulsivamente o mesmo comportamento.
Outro exemplo de normose geral que atinge toda a humanidade é a de considerar como
normal o uso das guerras para resolver conflitos e desavenças entre nações. Existe até um
conceito jurídico de "guerra justa" que sanciona esta normose bellígena.
Esta última normose é ainda reforçada por outra normose que faz com que os povos
acreditem piamente serem proprietárias da terra que ocupam, levando demasiadamente a
sério as fronteiras e os limites territoriais. Esquecem que todas as fronteiras que nascem os
conflitos violentos, que seja fronteiras territoriais, ideológicas, epistemológicas, políticas ou
religiosas.
O próprio sentimento de propriedade é também produto de uma normose geral. Podemos
em última instância considerar-mos como proprietários de objetos que todos são
constituídos de materiais provindo da terra? Somos proprietários da Terra?
Uma das causas essenciais da destruição ecológica é a normose de posse da Terra. Até
muito recentemente a humanidade inteira se conduzia como se fosse proprietária da Terra,
achando que podia explorá-la indefinidamente. Aliás a crença de que os recursos naturais
são inesgotáveis também é uma normose geral em plena regressão.
Mais uma causa fundamental de destruição da vida no nosso Planeta é a Normose
Consumista já conhecida sob o termo de Consumismo. É ela que deu ensejo ao
aparecimento do novo conceito econômico de Desenvolvimento Sustentável ou melhor
ainda Viável. A Normose consumista transforma a população do mundo num verdadeiro
formigueiro destrutivo da vida no Planeta.
4. NORMOSES ESPECÍFICAS.
No domínio da alimentação encontramos inúmeros tipos de normoses, as quais podemos
agrupar sob o termo de "Normoses Alimentares" . um exemplo clássico e histórico
encontramos na China quando da introdução pelos ingleses das indústrias de refinação do
arroz. Começou a aparecer o Beribéri que não se manifestava entre os consumidores de
arroz integral.
Nesta categoria podemos colocar todos os alimentos industrializados cancerígenos tais
como os corantes alimentares e as conservas enlatadas. O consumo de açúcar refinado é
uma das causas de cáries dentárias nas crianças que comem muitas balas. Uma normose
específica refere-se a certos países produtores de café os quais produzem uma dependência
e este produto gerando cardiopatias e excitação nervosa. Aliás nesta categoria alimentar
podemos colocar todos os alimentos que praticamente todo mundo consome mas que são
patogênicos. Vamos seguir alguns a título de exemplo:
Batata frita (Colesterol) , Doces (Diabetes), Excesso de Sal (Hipertensão) , Refrigerantes
(Obesidade). Ainda dentro da categoria de normoses alimentares, convêm lembrar o
consumo de álcool sob todas as suas formas de vinho, cerveja, licor, whisky, cachaça etc....
Esta normose é reforçada por inúmeros rituais: Antes da refeição tem o aperitivo, durante
tem vinhos variados associados especificamente com certos tipos de pratos, depois tem o
licor com café, sem contar celebrações diversas regadas com Champanhe ou fartura de
cerveja. Ao longo do tempo se instalam o alcoolismo com as suas nefastas conseqüências
íntimas, familiares e sociais, sem contar a cirrose hepática, o "delírium tremens" e a morte,
para os que não conseguiram se moderar.
Hiper consumo de carnes, mereceria uma referência especial já que um relatório das
Nações Unidas recomenda a alimentação vegetariana já que só uma diminuição de dez por
cento do consumo de carne, só nos USA, permitiria com a economia realizada, alimentar
em grãos toda a população faminta do Planeta. Outra Normose provindo do consumo é a do
uso de carros. Embora se saiba que a poluição provocada pelo consumo de gasolina ameace
a vida dos cidadãos duas vezes: através da impureza do ar e da radiação provocada pelos
buracos da câmara de ozônio, a produção aumenta.
As normoses ligadas ao consumo são reforçadas pela pressão das mídias através da
publicidade e da propaganda. No caso do cidadão comum há uma crença baseada em
princípios democráticos de que caberia um carro para cada cidadão do mundo, o que nas
condições atuais seria um verdadeiro suicídio coletivo.
Existem muitos outros tipos de normoses específicas que merecem estudos especiais. Por
exemplo no domínio da ciência há uma normose materialista e mecanicista que dita
comportamentos e decisões perigosas para a vida no Planeta devido a sua ligação com
paradigmas ultrapassados. O mesmo acontece no campo da Medicina dominada por uma
visão própria da normose da Ciência em geral. Existe uma normose comum à maioria das
religiões que consiste em acreditar na sua própria superioridade sobre as demais o que leva
a conflitos e mesmo a guerra. Outra normose religiosa que sustenta os fanatismos é a que
consiste em se ater ao pé da letra dos textos sagrados esquecendo o espírito e a época em
que forma redigidos assim como os seus aspectos de mensagens simbólicas. A descrença
cientista atual em relação à existência de dimensões parapsicológicas e Transpessoal da
realidade pode também ser considerado como normose levando a um credo cientista
ocidental.
No domínio das relações amorosas, existe uma normose bastante destruidora do amor
verdadeiro; é a normose sexual que leva milhões de seres humanos a confundir amor com
sensualidade, limitando as suas relações com o outro sexo aos seus aspectos puramente
genitais.
Vamos citar ainda como último exemplo uma normose educacional que podemos chamar
de normose racionalista que decorre de uma deformação da Ciência no sentido do antigo
paradigma racionalista newtoniano-cartesia no o qual só aceita a lógica racional e os cinco
sentidos como meios de conhecer a verdade. A Educação copiou este modelo reprimindo os
seus aspectos intuitivo e sentimental.
Poderíamos multiplicar os exemplos. Mas o espaço que resolvemos consagrar ao presente
artigo o impede. na próxima e última parte deste trabalho vamos examinar como se procede
a dissolução de uma normose estabelecendo proposições para uma Normoterapia.
5. PROPOSIÇÕES PARA UMA NORMOTERAPIA
Vamos retornar o exemplo de uma normose em franco declínio, pois isto nos permite
observar como está se efetuando a normoterapia, quer dizer a dissolução da normose.
Vamos retornar o exemplo da normose do fumo.
Esta normose na sua origem era específica de tribos indígenas. Se tornou uma normose
geral com a conquista das Américas pelos brancos.
Numa primeira fase da normoterapia, começou a divulgação dos efeitos patogênicos e
mesmo mortais do uso do cigarro. As mídias contribuíram muito, de maneira espontânea na
divulgação das descobertas médicas. Estamos aqui na fase social do processo. O público e a
própria imprensa começou a fazer pressão para tomar medidas legislativas. O público e a
própria imprensa começou a fazer pressão para tomar medidas legislativas. O Congresso
Nacional votou uma lei obrigando toda divulgação de cigarro a ser acompanhada da
expressão "O ministério da Saúde adverte: O cigarro faz mal a saúde". Mas as medidas em
níveis sociais não formam suficientes, apesar dos inúmeros debates pela TV reforçados por
conferências médicas. Esta primeira fase de Socioterapia teve que ser reforçada por
medidas no plano individual.
Com efeito no plano individual a normose se manifesta por uma neurose de dependência ao
cigarro. A Socioterapia foi indispensável acrescentar a psicoterapia nas suas modalidades
diversas, individuais e de grupo. Verificou-se que o próprio uso do cigarro era um modo de
aliviar tensões de ordem neurótica sem contar a sua gênese que se encontra muitas vezes
numa identificação com a figura masculina no caso dos meninos e numa afirmação
masculina na concorrência do movimento feminista.
Isto nos coloca em contato com a relação da normose com a neurose. Tudo indica que a
normose se instala na formação do superego e por identificação à ou às figuras parentais
portadoras dos componentes normóticos.
A experiência do cigarro nos mostra por conseguinte que a fase socioterápica no plano
social precisa ser reforçada no plano individual por medidas psicoterapeuticas. E quando
fala em terapia, torna implícitos os aspectos educacionais. Isto é bastante evidente na
normoterapia ecológica em franco andamento. A normoterapia tem que entrar nas escolas,
nas mídias e nos departamentos de recurso humanos (outra palavra de origem normótica...) .
Assim sendo a normoterapia se faz em dois níveis distintos porém correlatos.
Primeiro, no nível social podem e ou devem ser acionadas as seguintes medidas:
· Pesquisa dos efeitos patogênicos e letais
· Divulgação dos resultados em público pelos órgãos científicos e pelas mídias entre
outros.
· Ação das associações de consumidores, sindicatos e entidades de classes, fundações
e outros órgãos da sociedade civil.
· Pressão destes órgãos sobre o Legislativo visando elaboração e votação de leis
adequadas e sobre as autoridades policiais se for julgado conveniente.
· Divulgação das leis por todos os meios, visando a sua devida aplicação.
· Sociodramas, dinâmica de grupo e laboratórios de sensibilização em todos os
grupos ou coletividade onde for julgado conveniente inclusive desenvolvimento
organizacional holístico.
Segundo, no nível individual temos que pensar em termos educacionais e terapêuticos:
· Programas específicos de educação nas escolas, pelas mídias e empresas.
· Psicoterapia individual e de grupo. Aqui são incluídas conforme o caso, as centenas
de modalidades existentes. Convêm os psicoterapeutas terem formação ou
informação sobre o assunto para ficarem atentos quando aparecem sinais de
normose.
· Programas educacionais para os pais e as famílias.
Com estas medidas de Normoterapia, estaremos contribuindo para uma mudança cultural
indispensável no plano mundial. Temos um exemplo desta possibilidade na UNESCO cujo
Diretor Geral, Frederico Maior, desencadeou um movimento mundial de transformação da
Cultura de Violência em que está mergulhado o mundo, em Cultura de Paz. Por detrás desta
sugestão se encontra uma verdadeira normoterapia em escala planetária.
Pierre Weil
Há na maioria dos nossos contemporâneos uma crença bastante enraizada. Segundo esta, tudo o que a maioria das pessoas pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado como normal e por conseguinte servir de guia para o comportamento de todo mundo e mesmo de roteiro para a educação.
Certos fatos e descobertas recentes sobre origens do sofrimento e de doenças e sobretudo sobre as guerras, a violência e a destruição ecológica estão a contestar e questionar seriamente a normalidade de certas "normas" ditadas pela sociedade através dos consensos existentes.
Está se descobrindo que muitas normas sociais atuais ou passadas, levam ou levaram ao sofrimento moral ou físico ou mesmo de indivíduos, de grupos, de coletividades inteiras ou mesmo de espécies vivas.
Vamos apenas dar um exemplo entre centenas ou milhares: o do consumo de cigarros.
Ainda há alguns tempos atrás era considerado normal as pessoas fumarem. Muito mais, era
considerado ofensivo e mal educado pedir a alguém para deixar de fumar na sua presença.
A medida que se reforçava a certeza de que o ato de fumar era lesivo à saúde podendo criar
efizema e câncer pulmonar com conseqüências eventualmente letais, o fato de fumar em si
começou a ser questionado sem contar o ato de fumar em público. O resultado foi que esta
norma caiu por terra, sendo reforçado em certos países pela sanção legislativa.
Resolvemos adotar o termo de "Normose", para designar esta forma de comportamento
visto como normal mas que na realidade é anormal. O termo foi forjado na França por Jea
Yves Leloup com o qual estamos trabalhando visando estudar o assunto mais a fundo e
publicar os resultados das nossas reflexões e investigações. A presente série de artigos
constitui um primeiro resumo de artigos já publicados e do estado atual das nossas
reflexões. Vamos em primeiro lugar definir de maneira precisa e clara o termo de Normose.
Assim, além da Psicose e da Neurose o vocabulário psicopatológico foi enriquecido com a
palavra normose.
1. O QUE É UMA "NORMOSE"?
Consideramos como Normose o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos,
hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria de uma
determinada população e que levam à sofrimentos, doenças ou mortes, em outras palavras,
que são patogênicas ou letais, e são executados sem que os seus atores tenham consciência
desta natureza patológica, isto é, são de natureza inconsciente.
Assim sendo para considerar um comportamento como normático, este tem que ser:
· Inconsciente quanto à sua natureza patogênica.
· Haver um consenso em torno da sua normalidade.
· Ser patogênico ou letal.
Chegou agora o momento de descrevermos as diferentes e inúmeras espécies de normoses
que encontramos nas nossas investigações. E o que será objeto da próxima parte de
explanação.
2. CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS NORMOSES
O número de normoses é muito grande. Cada dia que passa descobrimos uma ou várias
delas em áreas as mais inesperadas. Uma vez que assimilamos o conceito e só seu alcance
se torna impossível de não ver. Muito mais; tudo se passa como se antes desta descoberta a
gente tivesse sido cego. O próprio conceito se comporta como um poderoso revelador
facilitando a tomada de consciência de aspectos essenciais à preservação da nossa saúde e à
nossa existência.
Podemos distinguir duas grandes categorias de normoses: as normoses gerais e as normoses
específicas.
· As normoses gerais são as que possuem um consenso comum a praticamente toda a
humanidade. E o caso por exemplo da aceitação do cigarro ou da fantasia da
separatividade da qual iremos tratar daqui a pouco.
· As normoses específicas tem o seu consenso restrito a determinada nação,
população, grupo social ou cultural. Podemos dar como exemplo a prática do duelo
entre os homens de classe nobre da Europa até o início deste século ou ainda o uso
de assentos que deformam aos poucos a coluna vertebral dos passageiros da classe
de motoristas.
Inúmeras outras categoria podem ser criadas em função de diversos parâmetros. Assim
sendo, dentro da categoria das normoses específicas podem ser criadas inúmeras outras
categorias ou subgrupos, segundo por exemplo o tipo de patologia ou de morte a que leva a
normose ou ainda ao consumo de determinados produtos ou alimentos. Podemos assim
falar de normoses cancerígenas, quer dizer, as que levam à patologia cancerosa. Usamos
também a categoria de "normose de consumo" que inclui os inúmeros objetos e serviços
prestados e que se revelam patogênicos ou letais. O objetivo do presente trabalho, sendo
apenas para sensibilizar o leitor à existência da normose vamos nos limitar em dar alguns
exemplos de cada uma das duas grandes categorias que acabamos de definir.
3. NORMOSES GERAIS
Vamos começar dando um exemplo de normose geral. A considerarmos como sendo a mais
perversa de todas as normoses. Antes de conhecer o conceito de normose escrevemos um
livro inteiro sobre ela sob o título: A neurose do Paraíso Perdido. Esta Neurose começa com
uma verdadeira Normose, a qual intitulamos de "Fantasia da Separatividade" . Trata-se de
uma ilusão, de uma miragem, que consiste em nos perceber como separados do mundo
exterior, como se não tivéssemos nenhuma relação com este. As conseqüências desta ilusão
são o desenvolvimento de emoções destrutivas tais como o apego a tudo que nos dá prazer
neste mundo exterior e a rejeição e raiva contra tudo que nos ameaça de dor e sofrimento.
São estas as maiores causas de tensão e stress o qual leva à doenças, a sofrimentos os quais
reforçam ainda mais a fantasia da separatividade. As pessoas entram assim num círculo
vicioso em que repetem compulsivamente o mesmo comportamento.
Outro exemplo de normose geral que atinge toda a humanidade é a de considerar como
normal o uso das guerras para resolver conflitos e desavenças entre nações. Existe até um
conceito jurídico de "guerra justa" que sanciona esta normose bellígena.
Esta última normose é ainda reforçada por outra normose que faz com que os povos
acreditem piamente serem proprietárias da terra que ocupam, levando demasiadamente a
sério as fronteiras e os limites territoriais. Esquecem que todas as fronteiras que nascem os
conflitos violentos, que seja fronteiras territoriais, ideológicas, epistemológicas, políticas ou
religiosas.
O próprio sentimento de propriedade é também produto de uma normose geral. Podemos
em última instância considerar-mos como proprietários de objetos que todos são
constituídos de materiais provindo da terra? Somos proprietários da Terra?
Uma das causas essenciais da destruição ecológica é a normose de posse da Terra. Até
muito recentemente a humanidade inteira se conduzia como se fosse proprietária da Terra,
achando que podia explorá-la indefinidamente. Aliás a crença de que os recursos naturais
são inesgotáveis também é uma normose geral em plena regressão.
Mais uma causa fundamental de destruição da vida no nosso Planeta é a Normose
Consumista já conhecida sob o termo de Consumismo. É ela que deu ensejo ao
aparecimento do novo conceito econômico de Desenvolvimento Sustentável ou melhor
ainda Viável. A Normose consumista transforma a população do mundo num verdadeiro
formigueiro destrutivo da vida no Planeta.
4. NORMOSES ESPECÍFICAS.
No domínio da alimentação encontramos inúmeros tipos de normoses, as quais podemos
agrupar sob o termo de "Normoses Alimentares" . um exemplo clássico e histórico
encontramos na China quando da introdução pelos ingleses das indústrias de refinação do
arroz. Começou a aparecer o Beribéri que não se manifestava entre os consumidores de
arroz integral.
Nesta categoria podemos colocar todos os alimentos industrializados cancerígenos tais
como os corantes alimentares e as conservas enlatadas. O consumo de açúcar refinado é
uma das causas de cáries dentárias nas crianças que comem muitas balas. Uma normose
específica refere-se a certos países produtores de café os quais produzem uma dependência
e este produto gerando cardiopatias e excitação nervosa. Aliás nesta categoria alimentar
podemos colocar todos os alimentos que praticamente todo mundo consome mas que são
patogênicos. Vamos seguir alguns a título de exemplo:
Batata frita (Colesterol) , Doces (Diabetes), Excesso de Sal (Hipertensão) , Refrigerantes
(Obesidade). Ainda dentro da categoria de normoses alimentares, convêm lembrar o
consumo de álcool sob todas as suas formas de vinho, cerveja, licor, whisky, cachaça etc....
Esta normose é reforçada por inúmeros rituais: Antes da refeição tem o aperitivo, durante
tem vinhos variados associados especificamente com certos tipos de pratos, depois tem o
licor com café, sem contar celebrações diversas regadas com Champanhe ou fartura de
cerveja. Ao longo do tempo se instalam o alcoolismo com as suas nefastas conseqüências
íntimas, familiares e sociais, sem contar a cirrose hepática, o "delírium tremens" e a morte,
para os que não conseguiram se moderar.
Hiper consumo de carnes, mereceria uma referência especial já que um relatório das
Nações Unidas recomenda a alimentação vegetariana já que só uma diminuição de dez por
cento do consumo de carne, só nos USA, permitiria com a economia realizada, alimentar
em grãos toda a população faminta do Planeta. Outra Normose provindo do consumo é a do
uso de carros. Embora se saiba que a poluição provocada pelo consumo de gasolina ameace
a vida dos cidadãos duas vezes: através da impureza do ar e da radiação provocada pelos
buracos da câmara de ozônio, a produção aumenta.
As normoses ligadas ao consumo são reforçadas pela pressão das mídias através da
publicidade e da propaganda. No caso do cidadão comum há uma crença baseada em
princípios democráticos de que caberia um carro para cada cidadão do mundo, o que nas
condições atuais seria um verdadeiro suicídio coletivo.
Existem muitos outros tipos de normoses específicas que merecem estudos especiais. Por
exemplo no domínio da ciência há uma normose materialista e mecanicista que dita
comportamentos e decisões perigosas para a vida no Planeta devido a sua ligação com
paradigmas ultrapassados. O mesmo acontece no campo da Medicina dominada por uma
visão própria da normose da Ciência em geral. Existe uma normose comum à maioria das
religiões que consiste em acreditar na sua própria superioridade sobre as demais o que leva
a conflitos e mesmo a guerra. Outra normose religiosa que sustenta os fanatismos é a que
consiste em se ater ao pé da letra dos textos sagrados esquecendo o espírito e a época em
que forma redigidos assim como os seus aspectos de mensagens simbólicas. A descrença
cientista atual em relação à existência de dimensões parapsicológicas e Transpessoal da
realidade pode também ser considerado como normose levando a um credo cientista
ocidental.
No domínio das relações amorosas, existe uma normose bastante destruidora do amor
verdadeiro; é a normose sexual que leva milhões de seres humanos a confundir amor com
sensualidade, limitando as suas relações com o outro sexo aos seus aspectos puramente
genitais.
Vamos citar ainda como último exemplo uma normose educacional que podemos chamar
de normose racionalista que decorre de uma deformação da Ciência no sentido do antigo
paradigma racionalista newtoniano-cartesia no o qual só aceita a lógica racional e os cinco
sentidos como meios de conhecer a verdade. A Educação copiou este modelo reprimindo os
seus aspectos intuitivo e sentimental.
Poderíamos multiplicar os exemplos. Mas o espaço que resolvemos consagrar ao presente
artigo o impede. na próxima e última parte deste trabalho vamos examinar como se procede
a dissolução de uma normose estabelecendo proposições para uma Normoterapia.
5. PROPOSIÇÕES PARA UMA NORMOTERAPIA
Vamos retornar o exemplo de uma normose em franco declínio, pois isto nos permite
observar como está se efetuando a normoterapia, quer dizer a dissolução da normose.
Vamos retornar o exemplo da normose do fumo.
Esta normose na sua origem era específica de tribos indígenas. Se tornou uma normose
geral com a conquista das Américas pelos brancos.
Numa primeira fase da normoterapia, começou a divulgação dos efeitos patogênicos e
mesmo mortais do uso do cigarro. As mídias contribuíram muito, de maneira espontânea na
divulgação das descobertas médicas. Estamos aqui na fase social do processo. O público e a
própria imprensa começou a fazer pressão para tomar medidas legislativas. O público e a
própria imprensa começou a fazer pressão para tomar medidas legislativas. O Congresso
Nacional votou uma lei obrigando toda divulgação de cigarro a ser acompanhada da
expressão "O ministério da Saúde adverte: O cigarro faz mal a saúde". Mas as medidas em
níveis sociais não formam suficientes, apesar dos inúmeros debates pela TV reforçados por
conferências médicas. Esta primeira fase de Socioterapia teve que ser reforçada por
medidas no plano individual.
Com efeito no plano individual a normose se manifesta por uma neurose de dependência ao
cigarro. A Socioterapia foi indispensável acrescentar a psicoterapia nas suas modalidades
diversas, individuais e de grupo. Verificou-se que o próprio uso do cigarro era um modo de
aliviar tensões de ordem neurótica sem contar a sua gênese que se encontra muitas vezes
numa identificação com a figura masculina no caso dos meninos e numa afirmação
masculina na concorrência do movimento feminista.
Isto nos coloca em contato com a relação da normose com a neurose. Tudo indica que a
normose se instala na formação do superego e por identificação à ou às figuras parentais
portadoras dos componentes normóticos.
A experiência do cigarro nos mostra por conseguinte que a fase socioterápica no plano
social precisa ser reforçada no plano individual por medidas psicoterapeuticas. E quando
fala em terapia, torna implícitos os aspectos educacionais. Isto é bastante evidente na
normoterapia ecológica em franco andamento. A normoterapia tem que entrar nas escolas,
nas mídias e nos departamentos de recurso humanos (outra palavra de origem normótica...) .
Assim sendo a normoterapia se faz em dois níveis distintos porém correlatos.
Primeiro, no nível social podem e ou devem ser acionadas as seguintes medidas:
· Pesquisa dos efeitos patogênicos e letais
· Divulgação dos resultados em público pelos órgãos científicos e pelas mídias entre
outros.
· Ação das associações de consumidores, sindicatos e entidades de classes, fundações
e outros órgãos da sociedade civil.
· Pressão destes órgãos sobre o Legislativo visando elaboração e votação de leis
adequadas e sobre as autoridades policiais se for julgado conveniente.
· Divulgação das leis por todos os meios, visando a sua devida aplicação.
· Sociodramas, dinâmica de grupo e laboratórios de sensibilização em todos os
grupos ou coletividade onde for julgado conveniente inclusive desenvolvimento
organizacional holístico.
Segundo, no nível individual temos que pensar em termos educacionais e terapêuticos:
· Programas específicos de educação nas escolas, pelas mídias e empresas.
· Psicoterapia individual e de grupo. Aqui são incluídas conforme o caso, as centenas
de modalidades existentes. Convêm os psicoterapeutas terem formação ou
informação sobre o assunto para ficarem atentos quando aparecem sinais de
normose.
· Programas educacionais para os pais e as famílias.
Com estas medidas de Normoterapia, estaremos contribuindo para uma mudança cultural
indispensável no plano mundial. Temos um exemplo desta possibilidade na UNESCO cujo
Diretor Geral, Frederico Maior, desencadeou um movimento mundial de transformação da
Cultura de Violência em que está mergulhado o mundo, em Cultura de Paz. Por detrás desta
sugestão se encontra uma verdadeira normoterapia em escala planetária.
Pierre Weil
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